MORANGUITA_RSS

' Cheguei ao teu quarto... reparei como estava tão vazio... o cheiro do teu perfume cortava-me a respiração por segundos, e imaginei o momento que to ofereci. Estavas tão lindo nesse dia, aqueles teus calções, brancos, com flores bordadas de azul... preparada para aquele jantar importante com Ela. Mal sabia eu do que a vida te tinha pregado, a aventura que te meteste, que te fez abrir as asas de Anjo e voar. Reparei que a carta ainda estava em cima da cama, com os lençóis todos desfeitos, e a colcha que tinhas feito toda no chão. Reparei ainda, que a televisão continuava acesa, o roupeiro aberto, e o teu telemóvel ligado desde aquele dia. Nunca ninguém conseguiu mexer em nada. Estava exactamente igual desde a última vez que la dentro estiveste... Não dava para tocar em nada do que era teu, a saudade rebentava, e as lágrimas estoiravam nos olhos, e ai morríamos contigo. Apenas o teu cheiro nos fazia sentir mais perto de ti... muito perto... Como se te pudéssemos tocar, beijar, abraçar! Desde aquele dia, que a tua mãe nao entra no teu quarto... assim que se aproxima, fecha os olhos para te poder sentir, e começa a chorar... as lágrimas são tantas, que ja nao aguenta mais a tua ausência... a dor e insuportável.Ninguém aguenta! Não suportamos o aperto do coração... a tua falta...·Sentei-me na tua cama, e abri de novo a carta...soa de abri-la, o meu coração apertou.e um arrepio me perseguiu dos pés à cabeça.·

– " Hoje acordei, e nao me arranjei. Não peguei nos Livros. Não arrumei a mochila. Não tirei o pijama. Não me calcei. Não tomei pequeno-almoco. Não disse bom dia a ninguém. Não chorei. Não ri. Não fui ao médico. Não abracei a minha família, Não fui as aulas. Não almocei na faculdade. Não levei as chaves do carro. Não fui passear o cão. Não fui as compras. Não ajudei a minha avo. Não arrumei o quarto. Não sorri a ninguém. Não falei ao telemóvel. Não fui passear. Não tirei fotografias. Não liguei o PC. Não fui a mais nenhum lado. Não bebi café. Não bebi agua. Não comi. Não lavei os dentes. Não ouvi musica. Não me maquilhei. Não levei relógio. Não controlei o tempo. Não fui buscar a Lara ao colégio. Não andei de autocarro. Não fui a nenhum centro comercial. Não falei. Não fiz nada. Mudei tudo. Quebrei a rotina de um dia-a-dia prolongado de 27 anos. Não fiz aquilo que todos fazem. Não cantei. Nada. E tudo à minha volta ficou igual. Ninguém me perguntou, se preocupou, se incomodou comigo, com a minha presença. Ninguém ligou à minha roupa, aos meus dentes, à minha fome, à minha sede, à minha tristeza, ninguém me ligou, ninguém me abraçou, beijou, tocou, ninguém me sorriu. Ninguém. Ninguém se importou. Entrei em casa, e deixei tudo como estava. Apenas peguei nesta folha, e neste caneta para escrever isto. Ninguém se importou. Só se vão preocupar comigo, quando eu morrer. Só ais. Se ninguém se preocupa com UMA pessoa, quanto mais com MIL? O que fiz hoje? Desisti. “·

Quando li isso, as lágrimas caíram-me pelo rosto. Meu Anjo. Porque eras tão bom?